...na música, até o silêncio tem ritmo.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Nasce uma estrela





            Quem ouvir Juliana Caymmi cantar proporcionará a si mesmo surpreendentes momentos de felicidade. Seu canto tem a suavidade de quem sabe que pode encantar quem quiser. Ele pode ser dramático, ou mesmo mordaz; mas o que mais impressiona nele é a simplicidade com que soa, mesmo sendo tudo isso e mais aquilo.
            Com jeitinho meio maroto, a voz de Juliana Caymmi veio sambar; com seu modo de interpretar, a roda se abre para melhor vê-la gingar; e até o tempo interrompe o seu passar para que ela esteja pronta para mudar sem que ele, o tempo, ao menos perceba que ele, para ela, não vai passar.
            Ainda que seu sobrenome revele que ela é uma Caymmi (filha de Danilo, compositor de boa linhagem, e de Ana Terra, compositora de talento, além de neta do grande Dorival e sobrinha de Nana e de Dori), Juliana arrebata quem a escuta pela primeira vez. Sua voz é poderosa, de arrepiar os pelos.
            E para ainda mais realçar seu timbre e sua afinação, os bons arranjos de Ricardo Matsuda, assim como os instrumentistas que os reproduzem, estão à altura da excelente cantora que a moça é.
            Além dos violões, da viola caipira e do baixo de Matsuda, a acompanhá-la estão Ramon Montagner, Chico do Pandeiro e Lucas da Rosa (percussão); Cleber Almeida e Pepa D’Elia (bateria); Mané Silveira (flauta e sax tenor); Tiago Costa (teclados); Luis Kalau (violão de sete cordas); Rubinho Antunes (flugel horn e trompete); Daniel Romanetto (cavaquinho) e Beto Kobayashi (guitarra).
            Para abrir Para Dançar a Vida (Kalamata), seu primeiro CD, Juliana uniu “Vento Noroeste” (Elpídio dos Santos e Juraci Rago) a “Flecha de Prata” (Danilo Caymmi): o poder da voz ampliando a força dos cantos praieiros.
            A delicadeza da flauta e do violão estão em “Moço” (Juliana Caymmi). A flauta se destaca em intermezzo arrebatador. Juliana brilha.
            “Porque Sou Carioca” (Juliana Caymmi e Ana Terra) é letra de mãe para filha. Coisa de craque.
            Em “Não Só Pela Chuva” (Fred Martins e Marcelo Diniz), o trompete em surdina é vigoroso. A bateria e o baixo pontuam.
            Apenas a viola caipira e o violão ponteiam suavemente. Juliana emociona no clássico “Desenredo” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro).
            Em “Coco Praieiro” (Eudes Fraga e Paulo César Pinheiro), o pandeiro dá a pisada, a zabumba vai, a viola brilha... Meu Deus!
            “Pra Dançar a Vida” (Juliana Caymmi) começa com o violão e o baixo fretless. A bateria logo se junta a eles. Bela canção.
            Piano, violão, baixo acústico e a bateria, tocada com vassourinhas nos pratos, criam a atmosfera para Juliana se deliciar com a linda “Guanabara” (Fred Martins).
            E ela segue com “Paixão Latina” (Selma Boradian); “Aonde o Tempo Vai” (Ricardo Matsuda); “Sempre Viva (Amor Perfeito)” (Luis Perequê); e com a sua amorosa “O Tempo”.
            Ao fechar com “Flor de Ir Embora”, de Fátima Guedes, Juliana Caymmi canta: “E lá vou eu/Flor de ir embora/Eu vou/Agora esse mundo é meu”. De fato, o mundo é seu, moça: cantando desse jeito, sua sina é ser reconhecida como uma grande intérprete.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4



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