...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, fevereiro 12, 2011

Orquestra de Berimbaus

A música brasileira que vem dos berimbaus

image

Tudo acontece no Morro do Querosene, no Butantã, bairro da zona oeste paulistana. Na pracinha do lugar, palco de manifestações culturais que vão do bumba meu boi, do tambor de crioula e dos mamulengos, até o samba de roda, o maracatu, a folia de reis e a capoeira, a cultura popular está viva, forte.
Tudo vibra no Morro do Querosene. A tradição move e diverte moradores e visitantes. Adultos e crianças se esbaldam com o que há de mais brasileiro na música e nos folguedos populares.
No Querosene a capoeira é comandada pelo mestre Dinho Nascimento, um baiano que é também percussionista. Foi numa roda comandada por ele, nos finais das tardes de domingo, que surgiu a ideia de se formar a Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene. Nascia o embrião do CD Sinfonia de Arame, lançado, enfim, com recursos da Secretaria Estadual de Cultura, através do Programa de Apoio à Cultura (ProAC).
Com participações especiais da Orquestra Tambores de Aço, Quarteto Pererê, Tião Carvalho e Toninho Carrasqueira, o disco revela as mais diversificadas afinações que se pode dar a um berimbau, além de trazer a público seus mais inúmeros e variados tipos. Toques, ora lentos, ora mais acelerados; ora mais ritmados, quase dançantes, ora mais melodiosos, tangendo a delicadeza.
Enquanto em coro ou em solos, vozes masculinas e femininas se revezam, tome de berimbaus gunga e berra-boi (de sons graves) somando-se ao berimbum (tocado com arco de violoncelo), com o berimbau de lata (tocado com arco de rabeca) – ambos com som densamente grave –, e com os berimbaus médio, viola e violinha (de sons agudos). Instrumentos de percussão dão força à levada puxada por eles.
A flauta de Carrasqueira, o violão de sete, a gaita, a viola e o violino do Quarteto Pererê, vez por outra, dão liga, abrandando o metálico do aço dos berimbaus e a batida bruta das peles dos tambores, dos pandeiros, dos atabaques, das caixas e das congas.
No repertório, clássicos da música brasileira: “Aquarela do Brasil” e “Na Baixa do Sapateiro” (Ary Barroso); uma insólita interpretação do Hino Nacional Brasileiro; canções de domínio público adaptadas por Dinho Nascimento: “Muzenza” (dividida com Décio Sá), “Embala Água”, “Amazonas”, “Cavalaria”, “Peixinho do Mar”, “Sertão do Caicó”, “Puxada de Rede” e “Samba de Roda”. Dinho é também autor de quatro belas músicas: “Acorde de Abertura” (com Aluá Nascimento), “Água, Fonte da Mãe Natureza”, “É Benguela, Meu Irmão” e “Toque de Mestre”.
Tudo nos faz o corpo embalançar e a alma sassaricar em delírios que se agitam e se abrandam na medida em que as ladainhas, os corridos, as chulas e os sambas de roda vêm e vão em quinze faixas tocadas pelos quinze músicos.
Como se tocasse na pracinha do Butantã, a Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene segue mesclando sons e ritmos que fazem de Sinfonia de Arame um disco emaranhado em moderna brasilidade, convivendo com a mais viva tradicionalidade.

Um comentário:

  1. Muito Bom!
    Obrigada por partilhar seus conhecimentos musicais.
    Joana Vieira-RJ

    ResponderExcluir