O mundo musical de Juca Novaes
Aquiles Reis
Um primeiro disco é como saltar num trapézio sem rede embaixo. Mesmo  para os mais experientes em gravações coletivas, na solidão de um  estúdio, tendo apenas o técnico de gravação a ouvi-lo por detrás do  vidro do “aquário”, o coração parece querer pulsar fora do peito.
Não há como imaginar o que se passa pela cabeça de quem se dispõe a  considerar que a obra que ajuntou ao longo do tempo merece registro. A  insegurança vem forte.
Antes, ao escolher as músicas que comporão o álbum que ele gostaria  que fosse perene – pois pretende fazer dele o seu espelho –, imagina se  deve gravar apenas músicas suas ou incluir as que fez com parceiros  diversos. Que músicos convidar para tocar? Quem produzirá? Será um  trabalho independente ou o entregará para que alguma pequena gravadora  lance no mercado? Chamará alguns famosos para participações especiais?  Será que vai tocar no rádio? Mas como, se não há a menor disposição para  pagar jabá? Bom seria ter uma música abrindo uma novela da Globo... O  sonho é livre.
Só algo é maior do que as dúvidas, maior mesmo do que a angústia: sua  música fala por si e por ele. O resto? Ora, depois se pensa no resto.  Mas há uma certeza: dali para frente sua vida nunca mais será a mesma,  pois ele a terá descoberto.
Depois de vinte anos integrando o Trovadores Urbanos, grupo com  inúmeros discos gravados, e depois de lançar quatro CDs com seu parceiro  Edu Santhana, Juca Novaes lançou Goa (Dabliú Discos), seu primeiro  disco solo.
Para dizer a verdade, não faço a menor ideia se Juca se debateu com  as mil e uma inquietudes listadas aí a cima. Mas não me surpreenderia  que sim, já que tais dificuldades, talvez ou de fato, pairam sobre a  emoção dos que pela primeira vez se aventuram no papel de se desnudar em  público solitariamente.
Juca convidou parceiros: Rafael Altério, Eduardo Santhana, Tavito,  Paulinho Novaes, Sérgio Santos e Zé Edu Camargo. Convidou participações  especiais: Bruna Caram, Lenine, Lucila Novaes e Danilo Caymmi. Convidou o  violonista e guitarrista Alexandre Fontanetti para produzir o disco e  cercou-se de um time de ótimos instrumentistas.
Melodias e harmonias bem construídas, letras com rigor métrico e  imagens de quem sabe o que diz. Música composta com talentosa  integridade... Toda Juca Novaes. Nada soa falso, tudo tem carisma e  generosidade. E o danado tem ótima voz, incluindo, quando necessário,  falsetes afinados e firmes.
O ritmo do repertório é variado; os arranjos são diversificados pelas  sonoridades de quarteto de cordas, acordeom, violões, guitarra,  teclados, bateria, baixo, flautas, coro e piano; tudo lá é Juca Novaes.  Não há desnível, todas as músicas têm a boa qualidade que fez com que  fossem escolhidas e gravadas. Com catorze faixas, Goa é o retrato de seu  autor.
O mundo musical de Juca Novaes, ouvido assim do alto de uma saudável  expectativa, é como um grande rio que vai doce e plácido, embora  caudaloso, rumo ao destino de se refazer em sal.

Nenhum comentário:
Postar um comentário