...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, julho 30, 2011

Saudade: descanse em paz, Billy Blanco

Uma cantora definitiva




Aquiles Reis



Ela nasceu no Paraná. Vivendo na capital paulista desde o início dos anos 1980, iniciou ali sua trajetória de cantora popular. Vinte anos de carreira. Até hoje gravou quatro discos. Há tempos não sentia o que experimentei ao ouvi-la cantar: certeza de estar diante de um talento definitivo, pronto, acabado e retocado... Mas poucos a conhecem. Meu Deus!

Sua voz é marcante, diferenciada; sua brejeirice assombra; sua delicadeza cativa; suas interpretações têm estilo próprio, único; o vigor do seu cantar é arrebatador; o timbre parece envolto em veludo; afinação indo às notas como a seta vai ao alvo; noção rítmica digna de aplausos entusiasmados... Uma grande cantora.

Não bastassem tantos predicados, ela canta o que lhe habita a alma, ali entranhada desde tempos idos. Ouvindo canções que se fizeram trilha sonora de seu passado e presente, forjou em canto a emoção que marcaria seu destino. Feito cicatriz, a música misturou-se à sua pele, grudou-se a ela e foi-lhe à corrente sanguínea, bombeando energia a tripas e músculos. Coração aberto à música, sua vida é cantar o que sabe ser seu, por destino e serventia... Mas poucos têm o prazer de escutá-la.

Ela é Carmen Queiroz, a que gravou Enquanto eu fizer canção (independente), cuja direção musical coube ao violonista Edmilson Capelupi. Num dos mais belos momentos do disco, tocou a ele e seu violão acompanhá-la em “O Meu Amor” (Chico Buarque). O instrumento, parecendo se desdobrar em vários outros, se faz de orquestra de cordas e cria atmosfera de enobrecer a canção.

Os efeitos e a percussão de Guello, o baixo de Edson Alves, o acordeom de Olívio Filho e o violão de Natan Marques criam o clima perfeito para Carmen interpretar “No Dia Em Que Eu Vim Embora” (Caetano Veloso e Gilberto Gil). O violão faz a introdução. A voz de Carmen soa crispada. O acordeom ameniza a crueza. A percussão bate coco. O baixo dá o chão... Caetano e Gil, se ainda não o fizeram, deveriam ouvi-la, isso lhes produziria enorme prazer.

Em “Alô... Alô?” (André Filho), o som grave do clarone (Mário Marques) se sobressai junto à flauta (João Poleto) e aos clarinetes (João Francisco e Alexandre Ribeiro). A percussão suinga... E tome polca.

Cantando “Nenhuma Lágrima” (Sueli Costa), Carmen tem no clarinete (Alexandre Ribeiro) contraponto perfeito. Acrescentando-lhe malemolência, o chorinho se faz mais lamentoso pelo violão de Capelupi e o bandolim de Milton Mori.

Para homenagear Ângela Maria, Carmen Queiroz se dilacera cantando “Tango Pra Tereza” (Evaldo Gouveia e Jair Amorim). Ao violão, só Edmilson Capelupi. E para que mais?

Hermínio Bello de Carvalho escreveu versos para “Estrada do Sertão” (João Pernambuco), faixa bônus que conta também, uma vez mais, com apenas o violão de Capelupi. Fortalecida pela sensibilidade e por sua memória musical, a voz de Carmen amplia a emoção do disco... E poucos a conhecem. Meu Deus!


Saudade: descanse em paz, Billy Blanco. E quanto ao seu desejo, “Aconteça o que acontecer, não parem nunca de cantar”, deixe com a gente, seguiremos cantando.


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