...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, abril 09, 2011

Johnny Alf para presente



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Johnny Alf – Entre amigos (Lua Music) é um presente para os que tiveram o privilégio de ouvi-lo. Uma caixa com três discos com o mesmo objetivo, cada um à sua maneira: homenagear o grande compositor, instrumentista e cantor.
Com concepção e seleção de repertório de Thiago Marques Luiz e Nelson Valencia, o primeiro álbum, Johnny Alf ao vivo e à vontade com seus amigos, contém gravações ao vivo de Alf com alguns convidados ilustres. Com Cida Moreira, os dois ao piano, Johnny Alf canta “A Noite do Meu Bem”. Com sua voz poderosa, Cida contrasta com a delicadeza vocal de Alf. Tudo a ver. Emocionados, renovam a emoção presente na obra-prima de Dolores Duran. Na pouca conhecida, mas bela, “Nós” (Johnny Alf), Leny Andrade amplia sua bossa com ótimas divisões e afinação impecável. Guitarra, bateria e baixo a acompanham com simplicidade, que é o que pede a modernidade harmônica de Alf.
No segundo disco, Em Tom de Canção (título de uma canção de Alf), Alaíde Costa se responsabilizou por escolher o repertório e interpretá-lo do jeito que só ela é capaz de fazer. Seus agudos seguem firmes. Sua respiração dá aos versos e às notas a precisão com as quais foram concebidas pela genialidade do homenageado. Assim, em dez faixas produzidas por Thiago Marques Luiz, ela se desdobra e passeia através do que marcou a fantástica trajetória musical de Johnny Alf. Sensibilidade.
Johnny Alf por seus amigos é o terceiro CD. Produzido por Thiago Marques Luiz, dezesseis intérpretes capricham em homenagens a Johnny Alf. Acompanhada por piano, baixo, bateria e guitarra, com arranjo de Giba Estebez, Wanderléa faz reverente versão para o clássico “Ilusão à Toa” (Johnny Alf). Sua voz contida vai aos versos com elegante veemência. A levada bossa nova se ampara na pegada sutil dos instrumentos. Gostoso de ouvir. E Zé Renato dá sua voz afinada a “Céu e Mar” (Johnny Alf). O samba suinga. O piano pontua. A bateria é fina. O baixo marca. Apenas tudo isso.
Johnny Alf, carioca de Vila Isabel, veio ao mundo Alfredo José da Silva. De família humilde, tinha tudo para repetir a trajetória da criança pobre, órfão de pai, de um subúrbio qualquer. Não repetiu.
A música clássica disputava a preferência do menino com os grandes compositores americanos, principalmente os que compunham para cinema: George Gershwin e Cole Porter.
As músicas norte-americanas e brasileiras, tão diversificadas e ricas, foram fontes onde Alf bebeu da água cristalina que desce do morro em gingas sutis e se encontra com o improviso libertário do jazz. A sutileza e a liberdade entraram em suas veias.
Johnny Alf esteve sempre vários acordes à frente de seu tempo. Suas composições, seu piano, suas melodias e frases musicais são socos no estômago de quem duvidava de que pudesse ser genial o brasileiro que, desafiando preconceitos artísticos e musicais, criaria raras e infindas belezas. Gotas d’água num mar de notas de um teclado tão limpo e preciso quanto genial.

Johnny Alf, nome artístico de Alfredo José da Silva (Rio de Janeiro, 19 de maio de 1929 — Santo André, 4 de março de 2010), foi um compositor, cantor e pianista brasileiro.


Perdeu o pai, cabo do exército, aos três anos de idade. Sua mãe trabalhava em casa de uma família na Tijuca e o criou sozinha. Seus estudos de piano começaram aos nove anos, com Geni Borges, amiga da família para a qual sua mãe trabalhava.

Após o início na música erudita, começou a se interessar pela música popular, principalmente trilhas sonoras do cinema norte-americano e por compositores como George Gershwin e Cole Porter. Aos 14 anos, formou um conjunto musical com seus amigos de Vila Isabel, que tocavam na praça Sete (atual praça Barão de Drummond). Estudou no Colégio Pedro II. Entrando em contato com o Instituto Brasil-Estados Unidos, foi convidado para participar de um grupo artístico. Uma amiga americana sugeriu o nome de Johnny Alf.

Em 1952, Dick Farney e Nora Ney o contratam como pianista da nova Cantina do César, de propriedade do radialista César de Alencar, iniciando assim sua carreira profissional. Mary Gonçalves, atriz e Rainha do Rádio, estava sendo lançada como cantora, e escolheu três canções de Johnny: Estamos sós, O que é amar e Escuta para fazerem parte do seu longplay Convite ao Romance.

Foi gravado seu primeiro disco em 78 rpm, com a música Falsete de sua autoria, e De cigarro em cigarro (Luís Bonfá). Tocou nas boates Monte Carlo, Mandarim, Clube da Chave, Beco das Garrafas, Drink e Plaza. Duas canções se destacaram neste período: Céu e mar e Rapaz de bem (1953), consideradas a melodia e a harmonia, como revolucionárias e precursoras da bossa nova.

Em 1955 foi para São Paulo, tocando na boate Baiuca e no bar Michel, com os iniciantes Paulinho Nogueira, Sabá e Luís Chaves. Em 1962 voltou ao Rio de Janeiro, se apresentando no Bottle's Bar, junto com o conjunto musical Tamba Trio, Sérgio Mendes, Luís Carlos Vinhas e Sylvia Telles. Apresentava-se no Litlle Club e Top, o conjunto formado por Tião Neto (baixista) e Edison Machado (baterista).

Em 1965 realizou uma turnê pelo interior paulista. Tornou-se professor de música no Conservatório Meireles, de São Paulo. Participou do III Festival da Música Popular Brasileira em 1967, da TV Record - Canal 7, de São Paulo, com a música Eu e a brisa, tendo como intérprete a cantora Márcia (esposa de Silvio Luiz). A música foi desclassificada, porém se tornando um dos maiores sucessos de sua carreira.

Em seus últimos anos de vida Johnny raramente se apresentava, em razão de problemas de saúde. Esteve apenas na abertura das exposições dedicadas aos 50 anos da bossa nova na Oca, em 2008, e, em janeiro de 2009, no Auditório do SESC Vila Mariana, em São Paulo. Na mostra sobre os 50 anos da bossa nova, Alf teve um encontro virtual com nomes como Tom Jobim, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Stan Getz. O artista tocava piano com as projeções dos colegas, já mortos, para um filme que foi exibido ao longo do evento. Segundo o curador da mostra, Marcello Dantas, Johnny Alf foi "o caso clássico do artista que não teve o reconhecimento a altura de seu talento. Alf foi um gênio e teve participação na história da nossa música".

O compositor não tinha parentes. Vivia em um asilo em Santo André. Seu último show foi em agosto de 2009, no Teatro do Sesi, em São Paulo, ao lado da cantora Alaíde Costa.

Faleceu aos 80 anos no hospital estadual Mário Covas, em Santo André (SP), onde, durante três anos, se tratou de um câncer de próstata. Ele vivia em uma casa de repouso na cidade.

Segundo o jornalista Ruy Castro, Johnny Alf foi o "verdadeiro pai da Bossa Nova". Tom Jobim, outro dos primeiros artistas da Bossa Nova, admirava Johnny Alf a ponto de apelidá-lo de "Genialf.

Um comentário:

  1. Tenho o CD, é lindo!
    Obrigada pela bela efeméride.
    Luiza Porto-RJ

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