...na música, até o silêncio tem ritmo.

domingo, setembro 11, 2011


Os três mosqueteiros da música brasileira




Guinga e Chico Buarque são compositores atemporais, suas músicas estão entre as que se perenizarão, cada vez mais, ao longo da história. Graças a seus talentos incontestes, são amados e tidos, pela grande maioria, como modelos musicais; mas são também contestados, há quem os veja como passadistas.

O pianista e compositor Antonio Adolfo aderiu àqueles que distinguem a importância dos dois. E ao dedicar seu novo disco a uma parte de suas obras, Antonio avaliza seus talentos. Ao homenageá-los lançando Chora Baião (Antonio Adolfo Music), ele lança um novo olhar sobre eles. E para melhor assim ser, lá está sua musicalidade latente nas onze faixas do CD: cinco músicas do Guinga, sendo duas só dele e três em parcerias com Buarque, Celso Viáfora e Aldir Blanc; três do Chico e três do próprio Antonio Adolfo.


Para realizar o trabalho, foi arregimentado um time de larga experiência e de alta qualidade: Leo Amuedo (guitarra), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria), Marcos Suzano (percussão) e Carol Saboya (vocais), além do irrepreensível piano do dono do pedaço. Ao privilegiar os ritmos que dão título ao CD (o choro e o baião – gêneros nos quais Guinga e Buarque são mestres), ele faz com que o conjunto tenha uma unidade que só faz aguçar o prazer de ouvi-lo.

A guitarra de Amuedo é movida a concisão: os solos são exemplos do menos que é muito mais. Seu intermezzo em “Dá o Pé, Loro” (Guinga), modelo de como a técnica e a emoção podem e devem andar juntas, eleva-o a uma categoria ímpar em seu ofício.

O baixo de Jorge Helder traz a segurança de que todo grupo carece para se fazer mais suingado e coeso. Basta ouvir “Morro Dois Irmãos” (Chico Buarque) e sacar a justeza da pegada do cara.

A percussão de Marcos Suzano, principalmente quando ele está ao pandeiro, impregna de brasilidade até samba de roda composto e tocado por dinamarqueses (com todo o respeito a eles, claro!). Para não dizerem que minto, lá estão ele e o pandeiro, brilhantes, em “Di Menor” (Guinga e Celso Viáfora).

A bateria de Rafael Barata soa com a precisão dos grandes bateristas. Sua leve levada nos pratos, sem deixar que o som se espalhe em demasia em “Gota D’Água” (Chico Buarque), atesta isso.

Carol Saboya participa cantando “Você, Você” (Guinga e Chico Buarque). Sua voz, de afinação cristalina, está bem avivada pelo piano paterno que a acompanha como se a levasse pela mão num passeio à beira-mar.

E tem tudo isso e muito mais. Pule de dez, tinha tudo para dar certo um CD no qual Antonio Adolfo se dispôs a juntar seu talento ao de Chico e Guinga. Deu! Discaço! Pois, convenhamos, som contemporâneo é a melodia rica que emoldura a harmonia iluminada por versos e/ou por instrumentos; som moderno é o talento que se revitaliza a cada acorde. Modernos e contemporâneos são Chico, Guinga e Antonio, eles que estarão sempre um passo à frente da modernidade de fancaria, sempre um compasso adiante do modismo de mercado.


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