A música brasileira que vem dos berimbaus
Tudo acontece no Morro do Querosene, no Butantã, bairro da  zona oeste paulistana. Na pracinha do lugar, palco de manifestações  culturais que vão do bumba meu boi, do tambor de crioula e dos  mamulengos, até o samba de roda, o maracatu, a folia de reis e a  capoeira, a cultura popular está viva, forte.
Tudo vibra no Morro do Querosene. A tradição move e diverte moradores  e visitantes. Adultos e crianças se esbaldam com o que há de mais  brasileiro na música e nos folguedos populares.
No Querosene a capoeira é comandada pelo mestre Dinho Nascimento, um  baiano que é também percussionista. Foi numa roda comandada por ele, nos  finais das tardes de domingo, que surgiu a ideia de se formar a  Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene. Nascia o embrião do CD  Sinfonia de Arame, lançado, enfim, com recursos da Secretaria Estadual  de Cultura, através do Programa de Apoio à Cultura (ProAC).
Com participações especiais da Orquestra Tambores de Aço, Quarteto  Pererê, Tião Carvalho e Toninho Carrasqueira, o disco revela as mais  diversificadas afinações que se pode dar a um berimbau, além de trazer a  público seus mais inúmeros e variados tipos. Toques, ora lentos, ora  mais acelerados; ora mais ritmados, quase dançantes, ora mais  melodiosos, tangendo a delicadeza.
Enquanto em coro ou em solos, vozes masculinas e femininas se  revezam, tome de berimbaus gunga e berra-boi (de sons graves) somando-se  ao berimbum (tocado com arco de violoncelo), com o berimbau de lata  (tocado com arco de rabeca) – ambos com som densamente grave –, e com os  berimbaus médio, viola e violinha (de sons agudos). Instrumentos de  percussão dão força à levada puxada por eles.
A flauta de Carrasqueira, o violão de sete, a gaita, a viola e o  violino do Quarteto Pererê, vez por outra, dão liga, abrandando o  metálico do aço dos berimbaus e a batida bruta das peles dos tambores,  dos pandeiros, dos atabaques, das caixas e das congas.
No repertório, clássicos da música brasileira: “Aquarela do Brasil” e  “Na Baixa do Sapateiro” (Ary Barroso); uma insólita interpretação do  Hino Nacional Brasileiro; canções de domínio público adaptadas por Dinho  Nascimento: “Muzenza” (dividida com Décio Sá), “Embala Água”,  “Amazonas”, “Cavalaria”, “Peixinho do Mar”, “Sertão do Caicó”, “Puxada  de Rede” e “Samba de Roda”. Dinho é também autor de quatro belas  músicas: “Acorde de Abertura” (com Aluá Nascimento), “Água, Fonte da Mãe  Natureza”, “É Benguela, Meu Irmão” e “Toque de Mestre”.
Tudo nos faz o corpo embalançar e a alma sassaricar em delírios que  se agitam e se abrandam na medida em que as ladainhas, os corridos, as  chulas e os sambas de roda vêm e vão em quinze faixas tocadas pelos  quinze músicos.
Como se tocasse na pracinha do Butantã, a Orquestra de Berimbaus do  Morro do Querosene segue mesclando sons e ritmos que fazem de Sinfonia  de Arame um disco emaranhado em moderna brasilidade, convivendo com a  mais viva tradicionalidade.
Muito Bom!
ResponderExcluirObrigada por partilhar seus conhecimentos musicais.
Joana Vieira-RJ