...na música, até o silêncio tem ritmo.

domingo, junho 05, 2011

Alzira E soma música à palavra



Aquiles Reis




Para a compositora Alzira E (Espíndola) e para o poeta Arruda, arte é concisão. Assim, tudo é rico quando um mais um é igual a menos de muito mais. Tudo para o menos ser demais de bom da conta. Ademais, tudo é um pouco que torna a canção mais intensa. Impossível haver jeito melhor; improvável mais musicalidade que diga tanto com o menos escolhido por eles para tudo o mais retratar.

Canto que se mistura à palavra. Voz que declama o verso. Poesia que encanta e clama. Dois seres dispostos a ser um só. Cantoria num límpido alvor de manhã espreguiçadeira; olhar de seca-pimenteira, que reduz a sombra da ingazeira à de mera touceira.

Por atuais, adaptei os parágrafos acima, escritos quando tratei do sétimo álbum de Alzira E, gravado em parceria com poeta ArrudA – com o qual criou um belíssimo trabalho –, para iniciar meu comentário de Pedindo a Palavra (independente), seu novo CD.

Nele a parceria está de volta. Com apenas uma das dez faixas feita com a participação de Jerry Espíndola, todas as outras têm a assinatura dos dois. E juntos criaram um repertório no qual dizem, desdizem e redizem novos conceitos. E seduzem. Tudo o que deles vem vale pelo breve instante em que se revela o tanto da profundidade das sílabas e o tantão do resplendor dos acordes. Montões de música vinda da capacidade de surpreender que sempre teve Alzira, e também ArrudA. Música posta de presente à mesa do ouvinte. Bom proveito.

Com produção de Du Moreira, a formação instrumental do novo disco é minimalista: além do baixo, dos teclados, das programações e da guitarra de Du (guitarra que em duas faixas esteve a cargo de Luiz Waack), apenas uma bateria, na qual se revezam Curumim, Kuki Stolarski e Marcelo Effori, e os vocais de Iara Rennó e Luz Marina. Tudo para que restasse intato o sumo da música de Alzira e ArrudA. E bota sumo nisso.

As melodias de Alzira são criadas de modo já adaptado à sua extensão vocal. Assim, cada nota parece ter nascido pronta para a garganta da intérprete, que sabe da importância da palavra somada à nota musical. Feito grande atriz que canta, o texto brota em Alzira já adquirindo contornos de pura mágica. E é aí, então, mais uma vez, que surgem os versos de intensa contemporaneidade escritos por ArrudA.

Isso tudo que você me diz/ Sem dizer nada/ É o ponto cego dessa cicatriz/ Costura frágil/ Caminhada/ Isso tudo que você me diz/ Sem dizer nada/ É o silêncio que dói na raiz/ É o silêncio pedindo a palavra. Estes versos, da música que dá título ao CD, nasceram como se fossem gêmeos univitelinos da melodia. Eles são a palavra do poeta traduzindo a expectativa de que a densidade pode ser também lírica, moderna.

Pedindo a Palavra é tudo música, é tudo poesia feita de luz e de sombra; tudo nascido em dias de sol e noites de lua, de verão ou de inverno; vidas carregadas de infinitas sutilezas; tudo aceso; tudo nu, sem vestes nem panos quentes nem leves que interfiram e acobertem o essencial.



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