Um multiinstrumentista e compositor ao qual se deve prestar atenção
Hoje falarei sobre Minha Cidade, o quarto e independente  álbum da carreira de Da Do, saxofonista, flautista, pianista,  clarinetista e compositor paulistano.
Para começar, às composições: o CD traz doze músicas de sua autoria,  sambas, baladas, choro, bolero, valsas e sambas-canções com a visão  plural de um músico que não se deixa prender por modismos nem por dogmas  musicais.
Com a cabeça instigada, Da Do deixa transparecer que seu sopro macio  traz das flautas um assobio aconchegante, cercado por harmonias que  preenchem compassos e lhe dão caloroso suporte. Com uma respiração  impecável, confere aos saxes soprano e alto o impulso que melhor traduz a  excelência dos instrumentos. Com sua modernidade impregnada por uma  memória musical que se solidificou em estudos na Manhattan School of  Music, de Nova York, o clarinete traduz a forma com que Da Do sente a  música contemporânea. Com suas mãos inquietas, mas atentas à sonoridade,  seu piano ecoa com a delicadeza e a precisão de um artífice.
Contando com um pequeno, mas seleto grupo de instrumentistas para  interpretá-los – Silvia Goes, piano; Renato Loyola, baixo e produção do  álbum; Celso Almeida, bateria; e Douglas Alonso, percussão –, com  exceção de dois arranjos criados pelo pianista Nelson Ayres e do arranjo  feito em parceria com Renato Loyola, os outros nove são de Da Do.
O desempenho de cada músico é um grande recurso à disposição dos  temas gravados. Esses registros, aliás, ganharam mixagens eficazes que,  ao realçar ricas nuances, permitem ao ouvinte estabelecer contato direto  com cada instrumento e lhe dão a possibilidade de admirá-los e a seus  executantes.
A capa e o encarte do CD contam com um requintado tratamento gráfico,  no qual se destacam as belíssimas ilustrações do artista plástico  Marcelo Lelis, desenhadas para dar forma viva a cada um dos temas  presentes do disco.
Conhecedor dos meandros das variedades rítmicas e harmônicas da  música brasileira, a Da Do interessa mesclá-la ao fraseado jazzístico.  Antes de prosseguir, porém, um aparte: é impressionante a capacidade de  improviso do moço. Seus sopros e suas mãos acompanham fielmente o  raciocínio do instrumentista. Se a este cabe o desejo de percorrer notas  em uma levada desabalada, o sopro acompanha tal intuito com fidelidade  canina. Se ao instrumentista cabe o prazer de se fazer musicalmente  romântico, lá estão suas mãos prontas para acompanhar tal desejo.
Minha Cidade confirma a possibilidade de fazer da música nacional  algo ainda mais rico, renovado e pleno de variações. É a música  instrumental brasileira valendo-se de sua criatividade para construir  uma ponte unindo manifestações musicais tão díspares e ao mesmo tempo  tão próximas.
Assim é Da Do, chiclete ele mistura com banana (é o sambajazz, meu  irmão) e Tio Sam e também nós ficamos de queixo caído, impressionados  com o resultado pleno de ricas misturas de conteúdo e expressão.
 Aquiles Reis
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