...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, maio 14, 2011

Um multiinstrumentista e compositor ao qual se deve prestar atenção


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Hoje falarei sobre Minha Cidade, o quarto e indepen­dente álbum da carreira de Da Do, saxofonista, flautista, pianista, clarinetista e compositor paulistano.
Para começar, às composições: o CD traz doze músicas de sua autoria, sambas, baladas, choro, bolero, valsas e sambas-canções com a visão plural de um músico que não se deixa prender por modismos nem por dogmas musicais.
Com a cabeça instigada, Da Do deixa transparecer que seu sopro macio traz das flautas um assobio aconchegante, cercado por harmonias que preenchem compassos e lhe dão caloroso suporte. Com uma respiração impecável, confere aos saxes soprano e alto o impulso que melhor traduz a excelência dos instrumentos. Com sua modernidade impregnada por uma memória musical que se solidificou em estudos na Manhattan School of Music, de Nova York, o clarinete traduz a forma com que Da Do sente a música contemporânea. Com suas mãos inquietas, mas atentas à sonoridade, seu piano ecoa com a delicadeza e a precisão de um artífice.
Contando com um pequeno, mas seleto grupo de instrumentistas para interpretá-los – Silvia Goes, piano; Renato Loyola, baixo e produção do álbum; Celso Almeida, bateria; e Douglas Alonso, percussão –, com exceção de dois arranjos criados pelo pianista Nelson Ayres e do arranjo feito em parceria com Renato Loyola, os outros nove são de Da Do.
O desempenho de cada músico é um grande recurso à disposição dos temas gravados. Esses registros, aliás, ganharam mixagens eficazes que, ao realçar ricas nuances, permitem ao ouvinte estabelecer contato direto com cada instrumento e lhe dão a possibilidade de admirá-los e a seus executantes.
A capa e o encarte do CD contam com um requintado tratamento gráfico, no qual se destacam as belíssimas ilustrações do artista plástico Marcelo Lelis, desenhadas para dar forma viva a cada um dos temas presentes do disco.
Conhecedor dos meandros das variedades rítmicas e harmônicas da música brasileira, a Da Do interessa mesclá-la ao fraseado jazzístico. Antes de prosseguir, porém, um aparte: é impressionante a capacidade de improviso do moço. Seus sopros e suas mãos acompanham fielmente o raciocínio do instrumentista. Se a este cabe o desejo de percorrer notas em uma levada desabalada, o sopro acompanha tal intuito com fidelidade canina. Se ao instrumentista cabe o prazer de se fazer musicalmente romântico, lá estão suas mãos prontas para acompanhar tal desejo.
Minha Cidade confirma a possibilidade de fazer da música nacional algo ainda mais rico, renovado e pleno de variações. É a música instrumental brasileira valendo-se de sua criatividade para construir uma ponte unindo manifestações musicais tão díspares e ao mesmo tempo tão próximas.
Assim é Da Do, chiclete ele mistura com banana (é o sambajazz, meu irmão) e Tio Sam e também nós ficamos de queixo caído, impressionados com o resultado pleno de ricas misturas de conteúdo e expressão.

 Aquiles Reis

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