O brilho da nação maranhense
Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho nasceu em São Luís do Maranhão.  Ao completar dezoito anos, desceu para São Paulo. Cursou a Faculdade de  Arquitetura e Urbanismo da USP. Influenciado pelo ambiente musical da  época, fez-se compositor e violonista. Àquela altura, conhecido apenas  como Maranhão, tocou violão na premiada montagem de Vida e Morte  Severina (1968), de João Cabral de Melo Neto, cujos versos Chico Buarque  musicou.
Participou do terceiro Festival de Música Popular Brasileira (1967)  da TV Record, onde conquistou o sexto lugar com o frevo “Gabriela”. Para  avaliar o valor do feito, lembremo-nos de que nesse festival Edu Lobo e  Capinan conquistaram o primeiro lugar com “Ponteio”, Gilberto Gil ficou  em segundo com “Domingo no Parque", Chico Buarque, com “Roda Viva”,  ficou em terceiro e Caetano Veloso (“Alegria, Alegria”) chegou em  quarto.
O tempo passou e Maranhão voltou para casa. Virou Chico Maranhão e  tratou de fazer valer seu amor por sua terra, nomeando-a Nação do Boi.  Fez-se um estudioso cultural e aprofundou seu olhar amoroso sobre a  cidade de São Luís, o que o levou a escrever o livro Urbanidade do  sobrado, um estudo sobre a arquitetura dos sobrados da antiga São Luís.
Compositor instintivo, mas com rara sensibilidade, Chico Maranhão, em  seu retorno, logo se dedicou a um disco de fôlego: Ópera Boi – O sonho  de Catirina, uma ópera popular em um ato.
No CD (independente, com apoios diversos), Chico Maranhão disseca o  espírito do bumba-meu-boi maranhense; demonstra suas variantes; espicaça  suas intenções; chama atenção para a força do boi no imaginário da  gente maranhense. E isso não é pouca coisa, não! Trata-se, isso sim, de  uma obra de referência para os que acreditam que é através da cultura e  suas manifestações populares que o Brasil assume sua verdadeira cara  como nação.
Ópera Boi – O sonho de Catirina principia com um tambor de crioula. A  marcação rítmica é tão forte como potente é a voz feminina que entoa  versos ricos em imagens. Ao final, surgem cantos de passarinhos, em  satisfeita harmonia com as cordas que remetem a um canto litúrgico. Vem  um polichinelo para alegremente anunciar a chegada do circo. Os  lavradores Catirina e Francisco conversam.
Cinco cantatas têm ritmo de matracas, pandeirões e chocalhos, em  comunhão com cordas, violão, teclado, sopros e flauta, resultando em  saborosa mescla de sons múltiplos. Ao misturar a consistência da arte  popular com a fortuna da música erudita, a simplicidade musical do  trabalho cativa.
E vêm surgindo em cena o amo e senhor, os Rajados, os “Tapúios” e os  Cazumbás. É o povo cantando, dançando o passo e a sua dor ancestral.
Os solistas, o coro, o batuque e o cordão tornam vivo o boi. E nele,  São Luís e o Maranhão se agigantam e se tornam ainda mais fortes e  pertencentes àquela uma gente que os ama incondicionalmente.
Trabalho de um verdadeiro amador, a ópera popular de Chico Maranhão tem na emoção e na sinceridade a bela tônica.

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