...na música, até o silêncio tem ritmo.

domingo, setembro 04, 2011

Virginia Rosa & Geraldo Flach


Boa música embalada em elegância e refinamento


  
Virginia Rosa & Geraldo Flach – Voz e Piano (Lua Music) traz a competência e a sensibilidade da cantora paulistana e do pianista, compositor e arranjador gaúcho. Assim nasceu um CD de alta qualidade.

A voz de Virginia e o piano de Geraldo fluem por treze faixas selecionadas com o rigor que precede momentos de grande eloquência musical. Há ainda duas faixas bônus: “Ta-Hi – Pra Você Gostar de Mim” (Joubert de Carvalho), com participação especial do pianista Ogair Jr., e “Prenda Minha” (domínio público), com a também distinta presença de Lucinha Lins.

Virginia Rosa abre o álbum cantando à capella “O Meu Amor Chorou” (Luiz Marçal Neto), grande sucesso na voz de Paulo Diniz. E a sua voz firme, potente, afinada e sentida derrete-se, sorvendo cada nota, cada sílaba.

Em “Amor de Índio” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos), a introdução tocada por Geraldo já dá pinta de que a levada será diferente da que todos já conhecemos pela gravação de Beto. E assim é em todos os arranjos de Flach: ele busca trilhar caminho próprio, buscar sutilezas que engrandeçam as obras interpretadas.

Na obra-prima de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, “Pressentimento”, a voz de Virginia ganha ainda mais força graças às modulações propostas pelo arranjo e conduzidas com vigor pelo piano. Os vocalises feitos ao final dão mostras de quanto o belo e o antológico podem ainda ser revigorados. Para encerrar, um pequeno trecho de “O Morro Não Tem Vez” (Tom e Vinícius), com direito a novos e agudos vocalises, feito os de uma lamentosa porém refinada cuíca.

Dedilhado no piano, “Que Nem Jiló” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) deixa de lado na primeira parte a marcação do baião. Mas quando o piano balança, o suingue atiça nordestinidade ao arranjo. Com novos vocalises temperados com agudos, Virginia encerra.

“A Flor”, bela canção de Fernando Figueiredo, é um dos mais belos momentos do CD. Líricos, os versos dão luz a uma melodia de impacto comovedor. “A Voz do Coração” (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) é outro instante emocionante.

“Kalu” (Humberto Teixeira), “Dindi” (Tom e Aloysio de Oliveira) e “Cacilda” (José Miguel Wisnik) arrebatam pela forma como Virginia as canta. Que voz! O piano de Geraldo faz com que as gravações originais se reflitam em seu tocar suave, mas sem, entretanto, copiar-lhes as intenções harmônicas e melódicas. Sensibilidade!

“Maria, Maria” (Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Upa, Neguinho” (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri) têm a força multiplicada pela capacidade de síntese de Virginia e Geraldo. E o chamamé (ritmo folclórico argentino, com grande força no Rio Grande do Sul) “Mercedita” (Ramón Sixto Rios) demonstra o quanto os dois têm visão musical aberta, sem parti pris.

Para fechar, Geraldo Flach sola o seu “Choro Amoroso”. Momento musical de intensa brasilidade, a atestar que música sem fronteiras é a que tem o gosto da terra em que nasceu, mas todo o mundo ama saboreá-la.



Nenhum comentário:

Postar um comentário