...na música, até o silêncio tem ritmo.

domingo, novembro 27, 2011

O violão e a flauta fazem breve intermezzo. A melodia volta com Rafael e o coro... Meu Deus!

Milagreiros, graças a Deus

Aquiles Reis



“Elegbá veio, sou eu, elegbá, laroê/ Com Zumbi que veio de elegbá/ Pode tu, Zumbi Bará, pode ir/ Pode ir lá/ Que teu povo veio chamar”, versos de “Zumbi Bará” (Rafael Altério e Paulo César Pinheiro). Assim canta Rafael Altério, abrindo seu CD Santo de Casa (independente, com patrocínios). Aceitando o chamamento, levou consigo sua brasilidade e seus santos de casa: amigos de fé, músicos de boa cepa, todos integrados no papel de solidificar a mistura da sonoridade harmônica com o fervor rítmico, resultando em música de brasileira qualidade.

Para tanto, contribuem os arranjos – a maioria de Rafael Altério (a direção artística é dele e de Celso Viáfora) – e as percussões, principalmente quando estão nas mãos de Kleber Benigno (Paturi), Márcio Jardim e Nazaco Gomes, os meninos paraenses do Trio Manari. Aos tambores amazônicos se juntam as teclas dos pianos (Paulo Calazans, Breno Ruiz e Rafael Altério), o acordeom (Breno Ruiz), a bateria (Gabriel Altério), a flauta (Teco Cardoso), as cordas dos violões (Luiz Ribeiro, Dani Black, Pedro Altério, Dani Altman e Rafael Altério), o baixo (Marcelo Mariano), a guitarra (Léo Amuedo e Dani Black) e o cello (Mariza Silveira). Toda essa gama infinita de sons vigorosos dá a Rafael o direito de impor com dignidade o seu vozeirão – sua voz tem o seu tamanho. Cercado de amigos, desde os instrumentistas até o coro feminino, ele não poderia deixar de também trazer para perto de si os parceiros letristas, Paulo César Pinheiro, Celso Viáfora, Joãozinho Gomes, Breno Ruiz e Rita (esposa) e Pedro Altério (filho). Todos santos da casa dos Altério, milagreiros, graças a Deus.

Ao ouvir as onze faixas do CD, entende-se perfeitamente o que Rafael quer com a música e o que ele ambiciona alcançar com ela: para Altério, música é missão cultural. Sabedor de tamanha exigência para consigo próprio e para com sua obra, trata de criá-la como quem concebe um filho.

A pegada da pele dos tambores está presente em quase todas as faixas. Com o balanço comendo solto, impossível aquietar o esqueleto. E segue o som, até que chega um momento de calmaria: André Mehmari tocando ora piano acústico, ora acordeom, e Rafael cantando, dele e Rita, “Flor de Rio”.

Logo a seguir, “Quando o Galo Cantar”, também dos dois. Os tambores do Manari e a flauta pontuam o início do canto. O pandeiro (Douglas Alonso) tem vez e segue até que o violão de aço, a bateria e o baixo, este com uma puxada de intensa pujança, juntem seu som à voz. A caixa da bateria conduz agora. O coro feminino reforça. O violão e a flauta fazem breve intermezzo. A melodia volta com Rafael e o coro... Meu Deus!

É a hora do sincretismo musical/religioso/afetuoso de Altério se despedir. E ele canta a letra de Joãozinho Gomes para “Camarada de Ogã”: “Vou pela manhã, tô indo agora/ O dia raiou fora de hora/ Vai junto de mim/ São Sebastião crivado/ São Bartolomeu irá ao meu lado”.

A casa dos santos de Rafael Altério está aberta.


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