...na música, até o silêncio tem ritmo.

domingo, dezembro 04, 2011

O canto missionário de Geraldo Azevedo


Aquiles Reis



Geraldo Azevedo mergulhou nas águas do Rio São Francisco e emergiu pleno de desejo de homenageá-las amorosamente. Nasciam o CD e o DVD Salve São Francisco (Biscoito Fino), uma quase opereta feita de colagens sonoras e imagéticas que reproduzem o significado do rio para os ribeirinhos e para quem sente dele emanar a força caudalosa que corre em seu leito.

Tem história o São Francisco que Geraldinho carrega na alma nordestina. Rio cujas águas banham e integram parte de um Brasil preocupado com sua situação atual. Mas que se irmanou no sonho de fazer do rio vital a sua companhia eterna.

Para tanto, Azevedo reuniu um grande time de intérpretes. Djavan, Dominguinhos, Geraldo Amaral, Marcia Porto, Fernanda Takai, Roberto Mendes, Alceu Valença, Maria Bethânia, Moraes Moreira, Ivete Sangalo e Vavá Cunha se uniram a ele para entoar loas ao rio pelo qual tanto se teme o futuro.

O CD Salve São Francisco tem doze faixas: duas de G.A. com Carlos Fernando, duas com Clóvis Nunes, duas com Geraldo Amaral, uma com Moraes Moreira, uma com Capinan e outra com Galvão (e aí, com melodias lancinantes, o talento de Geraldo se sobressai), além de uma só de Geraldo Amaral, outra de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, outra de Caetano Veloso e outra de Vavá Cunha.

Os letristas, por sua vez, buscam demonstrar o respeito e a preocupação com o futuro do São Francisco, o que resulta num manifesto musical de extrema força política, ainda que isso possa não ter sido cogitado inicialmente.

Os arranjos, a maioria do próprio Geraldo em conjunto com Robertinho de Recife, dão às músicas roupagem festiva ou trágica, dependendo da leveza ou da dramaticidade de cada uma.

Dominguinhos arrasa cantando e tocando acordeom em “Santo Rio” (G.A. e Carlos Fernando). A viola de 12 e o baixo tocados por Robertinho de Recife, somados à percussão de Firmino e ao violão do próprio Geraldo, ampliam o alcance da bela melodia.

Apoiados num arranjo que cria nova levada para a segunda parte de “Riacho do Navio”, Alceu Valença se junta a Geraldo para revigorar o clássico de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

“Carranca que Chora” (G.A. e Capinan) é um dos bons momentos do ótimo CD. Maria Bethânia (cada dia melhor), cantando com Geraldinho, tendo a ampará-los a viola de Jaime Alem, ratifica estarmos diante de um cantar de fundo lirismo. Um intermezzo plangente, a simplicidade domina, a emoção aflora.

Junto com Geraldo, Ivete Sangalo canta “Ciúme” (Caetano Veloso) e brilha. O arranjo correto de Eduardo Souto Neto para quarteto de cordas poderia ser mais parcimonioso na massa sonora, que, sem nuances, finda “empastelado” com as vozes. Mas nada que ofusque a voz profunda com a qual Ivete reverencia o São Francisco.

Em “São Francisco Help” (G.A. e Galvão), como um novo We Are the World brasileiro, os convidados se revezam para juntos embalar o sonho de Geraldo Azevedo com versos que deságuem nos corações dos que têm nas mãos o destino do Velho Chico.


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