O canto brasileiro de Renato Braz
Aquiles
Reis
Casa
de Morar (independente), o sexto disco lançado pelo cantor paulistano Renato
Braz, é dedicado a Homero Ferreira (falecido recentemente e grande amigo de
Renato).
Não
à toa, o CD tem forte participação do parceiro Paulo César Pinheiro, seja
recitando uma de suas poesias (“O Centauro”) ou em quatro letras (duas parcerias
com Dori Caymmi, uma com Mario Gil e outra com Theo de Barros).
Outra
participação preciosa é a de Dori Caymmi. Ele fez o arranjo e tocou violões
somados à viola, acordeom, percussão, dois cellos e baixo em “Desafio”; em
“Coração sem Saída”, seu violão, ao lado de sax (com inspirado improviso no
final), baixo e leve percussão, realça a beleza do samba lento – duas belas
músicas dele e P.C. Pinheiro. Caymmi ainda cantou com Braz, tocou violão e fez
o arranjo de “O Trenzinho do Caipira” (Villa-Lobos e Ferreira Gullar). “Durango
Kid” (Toninho Horta e Fernando Brant) também tem arranjo com a marca Dori
Caymmi de qualidade: mais uma vez seu violão começa, seguido por dois cellos e
baixo – apenas cordas dão ainda mais alento à canção.
Fred
Martins canta com Renato e toca violão em “Por um Fio” (dele e Marcelo Diniz).
A introdução e o final têm um coral, como o de monges. A percussão e o
contrabaixo seguram o ritmo.
“Casa
de Morar” (Claudio Nucci e Cacaso) empresta o nome ao CD e a ele adiciona
poética e brasilidade; “Santa Clara” (dos mesmos autores), com rica melodia de
Nucci, brilha ao som do sax de Nailor Proveta e das cordas (violão,
contrabaixo, dois violinos, viola e cello), arranjadas por Edson José Alves.
Deste
mesmo arranjador, com igual formação, “Relento” (Simone Guimarães e Cristina
Saraiva) é a mais perfeita tradução da origem de Renato Braz.
Também
com arranjo do violonista Edson Alves, Braz canta “Febril”, música bela e pouco
conhecida de Gilberto Gil. Seus versos, enricados por sete violinos, duas
violas, cello, baixo, violão, ganzá e trombone, trazem a dor da solidão no
palco envolta em musicalidade, arte em que Gil é mestre.
“Papo
de Passarim” (Zé Renato e Xico Chaves) tem a voz de Zé Renato somada à de Braz.
As vozes, o violão do Zé e a flauta de bambu do Teco Cardoso bastam-se.
A
cada audição do CD de Renato Braz, cantor de rara personalidade e afinação
certeira, vinha-me à mente o poema “Canto Brasileiro”, de Paulo César Pinheiro,
principalmente seus quatro versos finais: Meu coração é o violão de Espanha/
Meu sangue quente é o banjo americano/ A minha voz é o cello da Alemanha/ Meu
sentimento é o bandolim cigano/ A minha mágoa é o som francês do acordeon/ Meu
crânio é a gaita de fole escocesa/ Meus nervos são como bandoneon/ Minha calma
é igual guitarra portuguesa/ Meu olho envolve como flauta indiana/ Minha
loucura é como harpa romana/ Meu grito é o corne inglês de desespero/ Maldito
ou bíblico, demônio ou santo/ Cada país foi me emprestando um canto/ E assim
nasceu meu canto brasileiro. Nestes versos também está o canto de Renato Braz.
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