...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, fevereiro 19, 2011

O perfume da música na voz de Ilana Volcov


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Ilana Volcov lançou Bangüê, seu primeiro disco (com apoio do ProAC, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo), uma fotografia musical que a desnuda e apresenta. Com repertório impecável, sua intenção primeira está escrita no encarte: fazer “uma declaração de amor ao Brasil através da canção”.
E canções não faltaram. Lá estão músicas pouco conhecidas de autores famosos: Caetano Veloso (“Onde Eu Nasci Passa Um Rio”); Capiba (“Recife, Cidade Lendária”); Paulinho da Viola (“Encontro“); Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri (“Estatuinha”); Heckel Tavares e Joracy Camargo (“Leilão – Scenas Coloniales”); Tavinho Moura e Fernando Brant (“Paixão e Fé”); Guinga e Paulo César Pinheiro (“Procissão da Padroeira”); Noel Rosa (“Quando o Samba Acabou”).
Estas vieram somadas às de compositores pouco conhecidos: Chico Saraiva (“Na Virada da Costeira”) e Breno Ruiz (“Contradança”), ambas com letra de Paulo César Pinheiro; Karina Buhr (“O Trem”); Antonio Mestre e Artur Ribeiro (“O Namorico de Rita”) e “Morada” (autor desconhecido) formam uma saborosa salada musical regada a brasilidade.
Treze músicas que são como o mapa de um sentimento profundo que brota do chão, vai ao centro do mundo e cai sob medida para sintetizar o desejo que teve Ilana de traçar com o seu cantar um perfil da alma nacional. Os versos finais da bela canção de Caetano são exemplo vivo dessa síntese: “O rio só chega no mar/ Depois de andar pelo chão/ O rio da minha terra/ Deságua em meu coração”.
Como canta bem a moça, Deus do céu! Seus agudos são tão certeiros como acertada é a sua afinação. Sua voz, doce e afinada, tem uma profundidade que parece cavoucar espaço nos ouvidos de quem a ouve, buscando aconchego onde possa melhor se deixar sentir... A serenidade da intérprete que sabe o que quer com o seu canto.
Com produção musical de Ricardo Mosca, Michi Ruzitschka e da própria Ilana, Bangüê tem arranjos que o diferenciam. Os dos sopros, tão belamente especiais, soam bonito, quase deixando-nos ouvir pelos olhos... Em comunhão de sentidos, os ouvidos agradecem e a alma engrandece.
A sonoridade da formação clarone, clarinete, flauta e flauta baixo, usada na música de Hekel Tavares e Joracy Camargo, é espetacular; bem como soa linda quando o flautim entra no quarteto em substituição à flauta baixo, usada em “Paixão e Fé”. E há momentos de rara sutileza, como quando Ilana canta “O Trem” a capella ou quando interpreta “Quando o Samba Acabou” acompanhada apenas pelo piano magistral de Cristóvão Bastos.
A cozinha é modelo. A bateria e a percussão estão sempre nas mãos de Pedro Ito, e o baixo, sempre com Daniel Amorim. Juntos, dão sabor e força a cada ritmo de cada música, e suas levadas as tornam diferentes e ainda mais ricas.
A música é um mágico espelho que reflete o interior do corpo de quem se posta diante dele. Assim é Bangüê... Ilana Volcov se revelando em detalhes, se desnudando, se entregando à música que a seduz. E a nós.


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