O perfume da música na voz de Ilana Volcov
Ilana Volcov lançou Bangüê, seu primeiro disco (com apoio do  ProAC, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo), uma fotografia  musical que a desnuda e apresenta. Com repertório impecável, sua  intenção primeira está escrita no encarte: fazer “uma declaração de amor  ao Brasil através da canção”.
E canções não faltaram. Lá estão músicas pouco conhecidas de autores  famosos: Caetano Veloso (“Onde Eu Nasci Passa Um Rio”); Capiba (“Recife,  Cidade Lendária”); Paulinho da Viola (“Encontro“); Edu Lobo e  Gianfrancesco Guarnieri (“Estatuinha”); Heckel Tavares e Joracy Camargo  (“Leilão – Scenas Coloniales”); Tavinho Moura e Fernando Brant (“Paixão e  Fé”); Guinga e Paulo César Pinheiro (“Procissão da Padroeira”); Noel  Rosa (“Quando o Samba Acabou”).
Estas vieram somadas às de compositores pouco conhecidos: Chico  Saraiva (“Na Virada da Costeira”) e Breno Ruiz (“Contradança”), ambas  com letra de Paulo César Pinheiro; Karina Buhr (“O Trem”); Antonio  Mestre e Artur Ribeiro (“O Namorico de Rita”) e “Morada” (autor  desconhecido) formam uma saborosa salada musical regada a brasilidade.
Treze músicas que são como o mapa de um sentimento profundo que brota  do chão, vai ao centro do mundo e cai sob medida para sintetizar o  desejo que teve Ilana de traçar com o seu cantar um perfil da alma  nacional. Os versos finais da bela canção de Caetano são exemplo vivo  dessa síntese: “O rio só chega no mar/ Depois de andar pelo chão/ O rio  da minha terra/ Deságua em meu coração”.
Como canta bem a moça, Deus do céu! Seus agudos são tão certeiros  como acertada é a sua afinação. Sua voz, doce e afinada, tem uma  profundidade que parece cavoucar espaço nos ouvidos de quem a ouve,  buscando aconchego onde possa melhor se deixar sentir... A serenidade da  intérprete que sabe o que quer com o seu canto.
Com produção musical de Ricardo Mosca, Michi Ruzitschka e da própria  Ilana, Bangüê tem arranjos que o diferenciam. Os dos sopros, tão  belamente especiais, soam bonito, quase deixando-nos ouvir pelos  olhos... Em comunhão de sentidos, os ouvidos agradecem e a alma  engrandece.
A sonoridade da formação clarone, clarinete, flauta e flauta baixo,  usada na música de Hekel Tavares e Joracy Camargo, é espetacular; bem  como soa linda quando o flautim entra no quarteto em substituição à  flauta baixo, usada em “Paixão e Fé”. E há momentos de rara sutileza,  como quando Ilana canta “O Trem” a capella ou quando interpreta “Quando o  Samba Acabou” acompanhada apenas pelo piano magistral de Cristóvão  Bastos.
A cozinha é modelo. A bateria e a percussão estão sempre nas mãos de  Pedro Ito, e o baixo, sempre com Daniel Amorim. Juntos, dão sabor e  força a cada ritmo de cada música, e suas levadas as tornam diferentes e  ainda mais ricas.
A música é um mágico espelho que reflete o interior do corpo de quem  se posta diante dele. Assim é Bangüê... Ilana Volcov se revelando em  detalhes, se desnudando, se entregando à música que a seduz. E a nós.
QUE MARAVILHA!
ResponderExcluirLuiz Barros-SP