E o vento soou na madeira
A cena da música instrumental brasileira está ainda mais  rica com o lançamento do CD Vento em Madeira (Maritaca Discos). Para  gravá-lo, Teco Cardoso (sax e flautas) e Léa Freire (flautas) partiram  de um trabalho dela, Cartas Brasileiras (2007), produzido por ele. O  álbum, um profundo panorama da música instrumental feita em São Paulo  nos últimos tempos, contou com mais de sessenta músicos.
E Léa e Teco se defrontaram, então, com o primeiro desafio: montar um  quinteto que teria como meta reproduzir a sonoridade obtida por aqueles  60 músicos do disco anterior – um trabalho libertário e, ao mesmo  tempo, rigoroso. Instigados pela real dificuldade da realização do  objetivo, em meio a dúvidas, mas estimulados por elas, nasceu o Quinteto  Vento em Madeira, integrado por Léa e Teco, mais o baterista Edu  Ribeiro, o pianista Tiago Costa e o contrabaixista Fernando Denarco. E  como se não bastasse, há um sexto “instrumento”, convidado muito  especial em quatro das nove faixas, a voz de Monica Salmaso.
Músicos de altíssimo gabarito, dispostos a recriar um amplo  retrospecto da música instrumental contemporânea, os cinco se debruçaram  sobre o repertório: oito temas de autoria de Léa, Teco, Edu e Tiago, e  “Luz Negra”, uma das mais magistrais de Nelson Cavaquinho, parceria com  Amâncio Cardoso.
Os temas instrumentais, nos quais prevalece um amplo espectro de  ritmos, foram orquestrados de modo a fazer deles uma mostra do que a  versatilidade e a competência dos músicos podem realizar.
Segundo desafio: um ano de ensaios. Tempo para que arranjos e  composições fossem burilados, até que estivessem prontos para serem  tocados sem o auxílio de partituras. A interpretação, assim, deu-se de  maneira solta, contundente. “Copenhague” exemplifica o quanto isso é  verdade: um tema lento, com momentos de dissonâncias, começa com as  flautas baixo e sol dando o toque de taciturnidade pedido pela linda  melodia. Logo elas dão vez ao piano. O baixo e a bateria tocam  delicados. Flautas e piano acentuam a tristeza, levando-a a um ponto de  raro esplendor.
 Cantada por Monica Salmaso, “Luz Negra” é o encanto em versos. A  harmonia deixa de lado a original, buscando um jeito novo de entender o  gênio de Nelson Cavaquinho, e o início do arranjo é dedicado a  improvisos – em que o sax brilha. Para dar início ao canto, o piano sola  e logo o sax vem tocar a melodia, já agora com o apoio do baixo e da  bateria. A flauta baixo soa lindamente. E surge Monica Salmaso... Deus  do céu! Nelson aplaudiria.
O resultado é um trabalho da mais alta categoria musical. As  performances são uma mostra do quanto valeram as dezenas de ensaios –  cada instrumentista tirou o melhor de seu instrumento. Mesmo quando a  composição era de difícil execução, tal intimidade permitia que ela  soasse de maneira simples. Ainda que a sofisticação harmônica pudesse  levar a crer em algum grau de dificuldade de compreensão, o jeito como o  quinteto toca a torna acessível.
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