...na música, até o silêncio tem ritmo.

quarta-feira, julho 20, 2011

São canções que fazem parte da memória musical afetiva





Memória musical afetiva



Aquiles Reis



Ricardo Machado lançou A sombra confia ao vento (independente), onde estão músicas que foram destaque no início e meados do século passado. São canções que fazem parte da memória musical afetiva do cantor; músicas que estão para ele como uma foto pendurada na parede da emoção... Assim como também para cada um de nós há um repertório que nos ampara desde sempre.



Ricardo canta canções que não se imagina um intérprete selecionando para compor o repertório do seu álbum. Assim, soa de forma quase inusitada a regravação de “A Casinha Pequenina” (canção popular tradicional) e “Se Essa Rua Fosse Minha” (modinha tradicional). Mas o que pode parecer num primeiro momento insólito, é, na verdade, uma forma corajosa de reavivar emoções já quase à flor pele. A verdade em forma de sentimentos que não voltam, mas se perpetuam através de melodias e versos longínquos.



A seleção musical de RM segue apontando caminhos que nem de longe se pode achar fácil de ser trilhado. Misturando Chiquinha Gonzaga (“Menina Faceira”); Waldir Azevedo e Miguel Lima (“Pedacinhos do Céu”) e Carlos Gomes e Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (“Quem Sabe?”) com Fredera (“Sábado”); Zé Renato, Juca Filho e Cláudio Nucci (“Toada”) com Cartola (“O Mundo é um Moinho”) e Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito (“A Flor e o Espinho”), o álbum adquire o jeitão de um panorama musical popular brasileiro.


Ricardo Machado é afinado e divide com sabedoria as frases melódicas. Embora, por vezes, abuse do vibrato nas notas mais longas, seu timbre é agradável; sua extensão vocal (embora também se saia bem nos agudos) tem como força maior as notas de escala intermediária. Mas o principal é que suas interpretações têm marca registrada, pois ele canta de mãos dadas com a emoção e convicto da beleza de poder dividir com seus ouvintes o chamamento que lhe sai do peito e ganha contorno de história vivenciada através da música.

Com singeleza e contemporaneidade, em “Prece ao Vento” (Gilvan Chaves, Alcyr Pires Vermelho e Luiz Câmara Cascudo) Dirceu Leite brilha na flauta e Afonso Marins, no baixo; “Melodia Sentimental” (Villa-Lobos e Dora Vasconcelos) traz bela participação de Maria Clara Valle no cello; em “Casinha Pequenina”, destaque para o sete de Toni 7 cordas e o bandolim de Ricardo Calafate (arranjador e diretor musical); em “O Trenzinho do Caipira” (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar), o violão, mais o piano acústico de Kiko Horta, dão leveza à levada; em “Serra da Boa Esperança” (Lamartine Babo), Kiko Horta arrasa no acordeom; e em “Castigo” (Dolores Duran)  acompanhamento e o solo da guitarra de Ricardo Calafate nos tocam e emocionam pela brandura da lembrança.



Ricardo Machado nos convence definitivamente de que, quando a sombra confia no vento, ambos voam juntos, do passado ao futuro, fazendo do presente o momento mágico de reverenciar as músicas que amamos.

Saudade: Perdemos Mário Chamie.
Foi-se o grande poeta, ficam suas palavras.

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