...na música, até o silêncio tem ritmo.

sábado, outubro 15, 2011

Instrumentistas, cantoras, compositores, arranjadores, um grupo coeso que só ratifica a excelência musical

Tocando nas nuvens






















Aquiles Reis







Entre Nuvens (independente) é o primeiro disco de Luiz Millan. Bom compositor, letrista inspirado, o trabalho é um belo cartão de visita. A partir dele, sua passagem pela grande porta da música brasileira de qualidade se mostra real.

Michel Freidenson (arranjador e diretor musical) deu ao seu teclado e às flautas de Léa Freire (com direito a saboroso fraseado da flauta baixo) a responsabilidade de começar “E o Palhaço Chorou” (Mozar Terra e Luiz Millan), música que abre os trabalhos. Junto com eles vão os violinos de Luiz Amato e Esdras Rodrigues, a viola de Emerson De Biaggi e o violoncelo de Adriana Holtz. O som resultante cria a beleza que deságua no doce cantar de Ana Lee. O chorinho de boa cepa segue brejeiro. O teclado toca notas de suave requinte. A cortina do naipe de cordas deságua na amplidão da boa música. Afinada que só ela, Ana Lee dá à melodia o valor que enriquece os versos de Millan e a harmonia de Mozar.

“A minha máquina escreve letras sem pudor/ E frases perdidas entre a metafísica e o amor”, versos de “Montparnasse” (Plínio Cutait e Luiz Millan), traduzem o objetivo poético de Millan. Para cantá-los, Consiglia Latorre... Deus do céu! O que é a voz dela? Agudos límpidos, emoção à flor da pele, respiração impecável... O acordeom (Toninho Ferragucci) e o piano iniciam a canção quase frágil, tamanha é sua delicadeza. O acordeom se destaca. O violão toca a harmonia, porém se faz protagonista num breve dedilhar de notas uníssonas com o canto. O intermezzo de acordeom e violão, com o piano a fazer-lhes cama, é especial.

Ana Lee inicia “Mito” (Luiz Millan e Ivan Miziara), uma das quatro músicas do CD para as quais Luiz Millan criou a melodia, não os versos. Mais uma vez, o arranjo de Freidenson usou cordas e teclado, além de baixo (Sylvinho Mazzucca), cuja pegada reforça a levada sem tirar-lhe a suavidade, e bateria (Alex Duarte), que se vale dos pratos para acentuar a força dos versos, sem, no entanto, encobri-los. Tudo isso encarrega-se de vestir uma das mais belas canções do CD. Canção que parece feita para a voz de Ana Lee, pois, ao cantá-la, transforma-a numa ode à paixão. O intermezzo de teclado e cordas é belo em sua fortaleza. Ao retomar o canto, Ana Lee delicia-se com palavras: “Tens esta partitura/ Nas vértebras finas/ Tua música pura/ Rima íntima”.

“Outono” (Luiz Millan e Michel Freidenson), um dos dois temas instrumentais do CD, tem no sax soprano de Teco Cardoso o ponto de partida. O teclado o acompanha. As cordas também. Mais um belo arranjo de Michel. O acordeom de Ferragucci chega para aumentar a temperatura e o prazer de fazer da música fonte de deleite estético.

Instrumentistas, cantoras, compositores, arranjadores, um grupo coeso que só ratifica a excelência musical, instrumental, vocal e poética de um trabalho que abre a possibilidade de mais um compositor se juntar ao time dos que fazem da música brasileira a mais rica e diversificada do mundo: Luiz Millan.


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