...na música, até o silêncio tem ritmo.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Rosa Passos é uma obra-prima

Aquiles Reis


Rosa lançou É luxo só (Biscoito Fino), uma homenagem a Elizeth Cardoso. Fã da Divina, ela canta em seu louvor. Tudo começa com o acerto na escolha do repertório: dez obras-primas, à sua imagem e semelhança, sobejamente conhecidas pelos amantes de música boa.

Tudo continua com um trio de craques: Lula Galvão (arranjos e violão), Jorge Helder (baixo acústico) e Rafael Barata (bateria, percussão e mixagem). A simplicidade aparente do instrumental contrasta com a sua riqueza sonora. Os arranjos são enxutos; a mixagem, com a voz de Rosa em primeiro plano secundada pelo violão, tendo o baixo e a bateria um pouco abaixo, é de rara precisão.

Tudo vai além com Rosa Passos. Ela é única. Ninguém a iguala em voz nem em malícia. Sua voz... Ora, Rosa sublimou o ato de cantar... Liberto, é como se não cantasse, apenas esvoaçasse sobre as notas, como o beija-flor que toca a flor e nela se alimenta. Sua respiração permite divisões rítmicas, ricas como pedras mordidas pelo cinzel do pedreiro. Seu vibrato, tão discreto, quase não se nota, mas lá está ele, pronto para exercer sua importância. 

Ela começa... Meu Deus do céu!

“Olhos Verdes” (Vicente Paiva). Introdução de tamborim e violão. Logo vêm baixo e bateria, cujo intermezzo fica a cargo desta. Voltam o violão e o tamborim. Rosa é puro suingue.

“As Rosas Não Falam” (Cartola). Na introdução, o violão se vale da “Cantilena” da Bachiana No 5, de Villa-Lobos. Rosa vem. A bateria usa vassourinhas. O baixo coopera com o solo do violão.

“O Amor e a Rosa” (Pernambuco e Antonio Maria). O arranjo dá ainda mais sacolejo ao samba. O intermezzo é do baixo.

“Último Desejo” (Noel Rosa). Violão e baixo numa levada sem ritmo, com a bateria indo leve nos pratos, começam. Entra a segunda parte e com ela a bateria, que tem o som adensado por leve reverber. O solo é do violão.

“Palhaçada” (Haroldo Barbosa e Luiz Reis). O desempenho do trio é exuberante; talvez por isso a mixagem quase o tenha equilibrado à voz de Rosa. Melhor seria manter a equalização como a das outras faixas.

“Acontece” (Cartola). Violão, a bateria com vassourinhas e o baixo iníciam. O intermezzo cabe ao violão. O sussurrar de Rosa tem dengo, tem bossa...

“Diz Que Fui Por Aí” (Zé Kéti). As baquetas tocam no aro da caixa. O violão e o baixo entram. O samba soa íntimo. E assim vai ao final, quando o violão sola.

“Saia do Meu Caminho” (Custódio Mesquita e Evaldo Rui). O violão sola a introdução. Plenos de elegância, baixo, bateria e violão lustram o bolero. O violão brilha no intermezzo.

“Três Apitos” (Noel Rosa). Levemente, os pratos da bateria, com o violão, tocam a introdução. Com Rosa vem o trio. Segue-se novo solo de acordes do violão.

“É Luxo Só” (Ari Barroso e Luiz Peixoto). O samba ligeiro permite aos instrumentistas o brilho que demonstraram ao longo de todas as dez faixas, e a Rosa, revelar a sincera alegria de ver sua homenagem a Elizeth ter se consagrado em êxito.

Rosa é uma obra-prima.

Aquiles Rique Reis músico e vocalista do MPB4


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